quarta-feira, 15 de outubro de 2014

A Dualidade da Política Brasileira: "O Bem versus o Mal"



Recentemente li um post do Prof. Henrique Abel no facebook, intitulado Dez notinhas sobre as eleições”. Confesso que a elegância e sutileza do texto me pegaram de surpresa.

É gratificante, no meio de tantas banalidades cibernéticas, tropeçar num texto tão brilhante. Na verdade, encontrei algumas tendências no texto, que quero crer que refletem a alma política do autor. 

Mas pra mim tudo bem, não existe texto sem alma!

Óbvio que se aprofundássemos a análise de cada um dos itens abordados no texto, o resultado seria a construção de uma tese sociológica densa, não compatível com esse espaço de reflexão. Se você enxerga a política como uma luta maniqueísta do Bem contra o Mal, eu lamento te informar que, em ciência política, não se acredita mais nisso pelo menos desde o século XVI Assim, tomo a liberdade de abordar um pouco mais profundamente somente a “notinha 7”, onde se lê: “Se você enxerga a política como uma luta maniqueísta do Bem contra o Mal, eu lamento te informar que, em ciência política, não se acredita mais nisso pelo menos desde o século XVISe você enxerga a política como uma luta maniqueísta do Bem contra o Mal, eu lamento te informar que, em ciência política, não se acredita mais nisso pelo menos desde o século XVI.

Num passado recente tentei produzir algumas reflexões pragmáticas sobre essa citada perspectiva maniqueísta, usando como referencial teórico as eleições de 1989. Nessas eleições polarizou-se a luta entre o bem e o mal, e o resultado não poderia dar outro. Mas essas eleições deixaram marcas indeléveis na esquerda brasileira, como exemplo de táticas de sucesso a serem utilizadas num futuro incerto, mas inevitavelmente, próximo.

Passaram-se 25 anos. E eis que constatamos, estarrecidos, que o Partido Dominante vem usando, durante longos doze anos, com uma maestria insofismável, as mesmas táticas de que foi vítima no passado. Não que os outros se escusem de utilizar as mesmas artimanhas, mas os outros são os outros! E foram mais longe! Não se intimidaram em criar o delírio da superficialidade onde o Partido Dominante representa o bem, e o restante, não importando a sua natureza e sua ideologia, representa o mal, ou, na melhor das hipóteses, o que se deve evitar.

Vivemos um frenesi esquerdista nos últimos anos e isso pareceu, no princípio, revigorar a combalida e desacreditada política verde-amarela. Todavia, esse movimento de forma premeditada buscou de forma sistemática silenciar outras vozes igualmente legítimas, criando gerações de ativistas com claros sintomas de transtornos dissociativos. Esses, frente a uma realidade política desagradável, ajustam essa realidade, não a percebem ou interpretam a parte que não lhes agrada como uma conspiração da direita. Mas que “direita”?

Tomo a liberdade de responder essa questão usando uma notável observação do próprio professor Henrique Abel, feita em outro post: “A mais destacada qualidade ideológica da direita brasileira é que ela tem perfeita consciência de que não vale nada, ao ponto de não ter coragem sequer de externar seu pensamento em voz alta perante o público, preferindo se camuflar à imagem e semelhança dos adversários ideológicos que abomina.”

 A “direita” entrou na clandestinidade, o “centro” continua em cima do muro e o que realmente importa são aparências. Importa o que é estético! E percebam que nos últimos anos, teóricos anos de rebeldia, tornou-se “estético” ser de esquerda... E parece ainda mais estético ser ativista político.
Todavia o caráter frívolo dessa estética tem levado a uma perturbação obscena dos sentidos e dos espaços de reflexão. É uma lástima que o debate político tenha se forjado nos últimos anos numa perspectiva marcadamente maniqueísta (apesar de não se acreditar mais nisso, em ciência política, pelo menos desde o século XVI). Propõe-se uma esquerda de fácil consumo para as novas gerações, baseada no saudosismo das grandes batalhas e num imaginário político-ideológico romântico e utópico.

Assim, os protestos, a descrença, a rejeição e outros sintomas atuais nada mais são do que sinais de que o tempo passou. A realidade é outra! E essa nova realidade cobra mudanças. É necessário reciclar a esquerda no Brasil. Precisamos de uma esquerda mais atrevida, mais investigativa, mais questionadora, menos dogmática. Uma esquerda possivelmente estética em sua forma, mas menos cega, menos surda, menos ardilosa. Uma esquerda que se consolide como uma alternativa duradoura para o País, mas que não ceda às tentações totalitárias.

A esquerda não pode se confinar num gueto político, cega e surda às vozes de contestação. Uma esquerda que não está aberta às críticas, que não é curiosa, que não se autoavalia, está predestinada ao dogmatismo, à clausura ideológica e à demência precoce.

Cabe aqui emprestar uma reflexão de Álvarez Vergara sobre a construção da nova esquerda chilena. "Ser uma esquerda curiosa deve ser nossa marca. Não devemos permanecer com as palavras de ordem panfletárias. Sempre nas diferentes matérias, devemos ir mais além. Atravessar as paredes da ignorância e submergir-nos nas provocações intelectuais e políticas".

Já falei isso em outras oportunidades e reitero: "É necessário desconstruir essa violência simbólica, onde a sociedade é conduzida por uma ideologia dominante e inquestionável, se anulando enquanto ser histórico e protagonista".

Se exagerei no discurso, peço desculpas! As “dez notinhas sobre as eleições” são verdadeiramente instigantes e me induziram a vasculhar outros posts do Prof. Henrique Abel (que também são igualmente instigantes). Uma coisa puxa a outra! Assim, também, acabei buscando algumas visões que abordei em passado recente e que, apesar da minha voluntária abstinência ao debate político, representam o meu anseio por Mudanças!!!!!

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